Retornando à ficção depois de “Sapatilhas de Satã”, publicado em 1986, Eduardo Neiva estreia como contista pronto. Nele, o relato tem harmonia, unidade, coerência de forma, mas ao mesmo tempo pergunta ao leitor se é isso mesmo. Conjuga em grego a pergunta, o que quer dizer: ironiza. Fazer isto em texto literário é, às vezes, como botar passarinho na gaiola. Que faz Neiva? Voa junto.
Neiva é um escritor irônico. Criando, ficcionalizando, ele parece dar rasteiras seguidas em suas próprias diatribes lógicas de professor, em que se pressentia, pelo menos para quem o leu com atenção, um meticuloso designer da razão.
Corações Gentis é muito que bem outra coisa. Erudito que se diverte com a própria erudição, Neiva vai buscar no leit-motiv medieval e pós-medieval do cuore gentile de Dante em Vita Nuova a centelha para estes seis contos em torno da experiência amorosa, seja em seus matizes benignos, seja no que também convoca algo de “dantesco”.
É essa convocação que parece irônica, por interpelar o leitor a que partilhe um sentido segundo da letra. A ironia, de fato, só se faz na escuta. Com Neiva, porém, o objeto ironizado não é exatamente o saber letrado, mas a própria letra do saber, ou o discurso em que algo se transmite. É uma escrita autoconsciente no sentido de que reflete, sem pretensões de metalinguagem, sobre procedimentos narrativos, limites da ficção, isto é, os limites do real e do imaginário.
Assim, não são tão gentis os corações perfilados por este escritor. – Muniz Sodré, no Prefácio.
“Fabuladas e descritas nos seis contos aqui narrados, com uma surpreendente profundidade dos sentimentos, as experiências do amor apresentam-se ao leitor em múltiplas dimensões. São seis caminhos que nos direcionam aos recônditos mais profundos, ocultos e complexos do ser humano.” – Claudio Correia, que assina o Posfácio do livro.
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